A enurese noturna é muito comum em consultórios de Cirurgia Pediátrica. É fator de considerável ansiedade dos pais e da família. Proporciona um estresse emocional na criança interferindo em seu convívio social, a impedindo de dormir na casa dos colegas ou participar de acampamentos e excursões.
Os pais, compreensivelmente angustiados e, por vezes, até irritados com um problema que não conseguem resolver, podem acabar culpando a criança por não controlar sua urina e recorrem frequentemente a terapias psicológicas e outras formas desesperadas de alcançar a solução.
A verdade é que a criança não tem culpa da situação. Seu problema é orgânico, físico e não psicológico. Ela realmente não tem controle sobre a perda de urina durante a noite e necessita de tratamento especializado.
Não há uma idade definida em que a criança deve estar totalmente continente. Estima-se que 6 a 10% de todas as meninos e meninas que chegam aos 7 anos de idade ainda perdem urina durante o sono. Há predisposição genética. Metade dos pacientes possuem outro membro da família com o mesmo problema – irmãos, pai ou mãe.
Embora a maioria terá cura espontânea até os 20 anos, o tratamento evita constrangimentos e limitação ao convívio social em uma fase em que a criança começa a interagir com o mundo e experimenta a ansiedade da aceitação social.
Antes de instituir o tratamento, é importante encorajar a criança a participar da responsabilidade na resolução do problema. Esta responsabilidade é dirigida à ação de ajudar a lavar e trocar os lençóis da cama. O uso de fraldas não deve ser estimulado. Um sistema de reforço positivo pode ser empregado, com a colocação de etiquetas em um calendário, para seguir a melhora e encorajar a criança. É recomendado aumentar a ingestão de líquidos durante o dia e interromper entre 3 a 4 hs antes do sono.Acordar a criança a noite para urinar é uma atitude frequentemente utilizada pelos pais, mas não parece ajudar na resolução do problema.
A Sociedade Internacional de Incontinência em Crianças (ICCS – International Continency Childreen
Society), definiu em março deste ano, como primeira linha de tratamento para enurese monossintomática o uso do alarme ou DDAVP, dependendo da característica do distúrbio. O primeiro consiste em um dispositivo com um sensor adesivo que é colocado na roupa íntima da criança e, quando começa a ficar úmida, é tocada uma buzina. Isso vai condicionando o sono, para que ele não fique muito profundo, até que o alarme não seja mais necessário. O DDAVP é um tratamento medicamentoso para crianças com maior volume de urina a noite. Há também outros tratamentos para pacientes que não respondem aos anteriores.
A mensagem final para os pais que estão enfrentando esta situação é que a criança realmente não tem culpa do distúrbio, pois a perda de urina é totalmente involuntária. Os fatores psicológicos podem ser conseqüências, mas não causa do problema. Todos os pacientes podem ser curados em alguns meses. Esperar passar a idade na espera de resolução espontânea pode acarretar ansiedade nos pais e problemas sociais na criança.